Monitorização e a Gestão de Visitantes para um Território Sustentável
A indústria do turismo é provavelmente o setor económico, a nível mundial, que mais rapidamente cresceu nos últimos 70 anos. De acordo com a Organização Mundial do Turismo (2020), o número de turistas cresceu de 25 milhões em 1950 para uns astronómicos 1,460 milhões em 2019 (UNWTO, 2020). Consequentemente, as várias vertentes do turismo também viram um incremento, como por exemplo o turismo de natureza que passou a representar cerca de 2% de todo o turismo, nos anos 80, para cerca de 20% em 2009 (Buckley, 2009). Alguns autores, como Lemelin (2006), defendem que a popularidade do turismo praticado em áreas naturais, advém da representação destes locais em documentários e revistas. Mais recentemente, as publicações online e as populares redes sociais, têm difundido e proliferado estas áreas naturais, muitas delas protegidas, de forma generalizada.
A divulgação de destinos de natureza através dos media pode trazer um aumento desmedido do número de visitantes, transformando, de acordo com Moore, S. (2012), o típico destino de natureza num turismo de massas, aparentemente, sustentável. A representação da natureza pelos vários formatos dos media, têm um papel fulcral na promoção do destino, não só porque têm o potencial de impactar as expectativas,
perspetivas e atitudes dos visitantes, mas também porque podem denegrir a imagem de um destino, especialmente quando a experiência não atinge as expectativas previamente criadas (Michalkó et al., 2015).
A promoção de um tipo de turismo mais sustentável e a gestão do uso público das áreas naturais são duas das principais preocupações das entidades que gerem as áreas protegidas. Por essa mesma razão, e de acordo com Torbidoni, E. et al. (2018), o planeamento, administração e gestão destas áreas naturais requerem uma caraterização detalhada e uma aprofundada monitorização dos vários usos, quer sejam recreativos, desportivos ou da procura turística generalizada.
A monitorização de áreas protegidas pode ser realizada através de variadas metodologias, contudo a ênfase é dada aos métodos quantitativos, tais como as contagens diretas, cadernos de registos, contadores automáticos e observação através de vídeo (Muhar, A. et al. 2002). Mais recentemente, a disseminação de sistemas GPS (Global Positioning System) nos dispositivos móveis criou uma nova oportunidade. A recolha de dados poderá ser realizada de forma mais completa e precisa, sendo possível determinar como é que os visitantes movem-se numa determinada área, e quais os itinerários que selecionam. Também as redes sociais podem ter um papel determinante na monitorização de áreas naturais, através dos conteúdos partilhados pelos utilizadores. Como indica Barros, C. (2021), a quantidade de conteúdos descarregados, diariamente, são uma ajuda preciosa na monitorização, pelo que fornecem informações sobre o comportamento dos visitantes e os seus padrões de movimento, em zonas que previamente não existiam quaisquer dados disponíveis.
A combinação das várias metodologias é um dos aspetos que deve ser considerado na estruturação de um sistema de monitorização, pois uma das grandes vantagens desta junção é a possibilidade de verificar, através do cruzamento de dados, a eficiência de contadores automáticos ou outros meios tecnológicos adotados, visto que a utilização destes está sujeita a algumas desvantagens (como por exemplo, erros de transmissão, perda de dados ou a legitimidade dos mesmos). Por essa mesma razão, os autores referem que a aplicação inquéritos ou entrevistas qualitativas da experiência do visitante permitem entender, não só quais as motivações dos visitantes, como também perceber quais os trilhos escolhidos de modo a entender de forma mais objetiva a carga de visitantes nas diferentes secções da área monitorizada (Arnberger et al. 2000).
Em suma, no contexto nacional, ou até a nível europeu, ainda não existe conhecimento suficiente sobre as necessidades de monitorização e gestão de visitantes em áreas protegidas, especialmente pela inexistência de uma estandardização dos métodos utilizados. Ao contrário de outros países, como os Estados Unidos, onde os Serviços Florestais têm um programa de monitorização instalado desde o início do corrente século (English et al. 2001).
De modo a potenciar a discussão sobre a monitorização das áreas de lazer e mais especificamente as zonas protegidas da região autónoma, o Ecos Machico promove a II Edição da Conferência Ecos Machico, onde o principal tema abordado será a Monitorização e Gestão destas áreas. Esta iniciativa tem como principal intenção ir ao encontro dos temas abordados na Conferência Internacional sobre Monitorização e Gestão de Fluxos de Visitantes em Áreas Recreativas e Protegidas (MMV) criada em 2002 em Viena, Áustria. A MMV foi uma iniciativa do Instituto de Arquitetura Paisagista e Gestão da Paisagem da Universidade BOKU que, com ajuda de parceiros, organizou este encontro bianualmente por vários países da Europa e que tem vindo a ganhar notoriedade desde então. A próxima edição acontecerá em setembro de 2024.
Referências Bibliográficas
ARNBERGER, A., BRANDENBURG, C., CERMAK, P., & HINTERBERGER, B. (2000): BESUCHERSTROMANALYSE FÜR DEN WIENER BEREICH DES NATIONALPARK DONAU-AUEN/LOBAU: GIS-IMPLEMENTIERUNG UND ERSTE ERGEBNISSE. [ANALYSIS OF VISITOR FLOWS IN THE VIENNESE PART OF THE DANUBE FLOODPLAINS NATIONAL PARK – GIS IMPLEMENTATION AND FIRST RESULTS] IN: STROBL, J., BLASCHKE, T., & GRIESEBNER, G., EDS., ANGEWANDTE GEOGRAPHISCHE INFORMATIONSVERARBEITUNG XII AGIT SYMPOSIUM 2000. WICHMANN VERLAG, HEIDELBERG, 216-227.
BARROS, C. (2021). MODELLING VISITORS MOVEMENTS OF NATURE-BASED TOURISM FROM SOCIAL MEDIA DATA. MMV10, PP 340-341.
BUCKLEY, R. (2009) ECOTOURISM: PRINCIPLES AND PRACTICES. CABI, WALLINGFORD, UK
ENGLISH, D.B.K., S.M.KOCIS, S.J. ZAMOCH, J.R. ARNOLD (2001): FOREST SERVICE NATIONAL VISITOR USE MONITORING PROCESS: RESEARCH METHOD DOCUMENTATION. HTTP://WWW.FS.FED.US/RECREATION/RECUSE/METHODS/METHODS052001.RTF
FAERBER, L. S., HOFMANN, J., AHRHOLDT, D. SCHNITTKA (2021). WHEN ARE VISITORS ACTUALLY SATISFIED AT VISITOR ATTRACTIONS? WHAT WE KNOW FROM MORE THAN 30 YEARS OF RESEARCH, TOURISM MANAGEMENT, VOLUME 84. HTTPS://DOI.ORG/10.1016/J.TOURMAN.2021.104284
FARÍAS-TORBIDONI, ESTELA & BARIĆ, DEMIR & MORERA, SERNI. (2018). MONITORING RECREATIONAL USE IN PROTECTED NATURAL AREAS. ALT PIRINEU NATURAL PARK 2011-2017. SPAIN. PP 53-55.
LEMELIN R. HARVEY (2006) THE GAWK, THE GLANCE, AND THE GAZE: OCULAR CONSUMPTION AND POLAR BEAR TOURISM IN CHURCHILL, MANITOBA, CANADA, CURRENT ISSUES IN TOURISM, 9:6, 516-534, DOI: 10.2167/CIT294.0
MICHALKÓ, G., IRIMIÁS, A., TIMOTHY J. DALLEN, (2015). DISAPPOINTMENT IN TOURISM: PERSPECTIVES ON TOURISM DESTINATION MANAGEMENT, TOURISM MANAGEMENT PERSPECTIVES, VOLUME 16, PAGES 85-91. HTTPS://DOI.ORG/10.1016/J.TMP.2015.07.007
MOORE A. SUSAN (2012). CURRENT AND FUTURE ISSUES IN NATURAL AREA TOURISM WITH A SPECIAL FOCUS ON VISITOR MONITORING, 2012, MURDOCH UNIVERSITY, AUSTRALIA.
MUHAR A., ARNBERGER A., BRANDENBURG, C. (2002). METHODS FOR VISITOR MONITORING IN RECREATIONAL AND PROTECTED AREAS: AN OVERVIEW. INSTITUTE FOR LANDSCAPE ARCHITECTURE AND LANDSCAPE MANAGEMENT, BODENKULTUR UNIVERSITY, VIENNA, AUSTRIA.
WORLD TOURISM ORGANIZATION (2021), INTERNATIONAL TOURISM HIGHLIGHTS, 2020 EDITION, UNWTO, MADRID, DOI: HTTPS://DOI.ORG/10.18111/9789284422456.